sexta-feira, 26 de outubro de 2012

o dia em que meu professor se apaixonou por mim.

Nunca fui uma boa aluna. Sempre mediana; é, eu era aquela aluna sentada no meio da sala (horizontal e verticalmente, fazendo um “xis” na sala, eu ficava exatamente no meio), que não fede nem cheira. Era tímida o suficiente para passar a aula inteira sem dar um “piu”, exceto quando o professor solicitava minha opinião. Isso na minha época de colégio. Na faculdade as coisas mudaram um pouco, ou melhor, bastante. A aluna mediana agora sentava na primeira fila (recebendo as respingadas de baba dos professores), sempre falava o que estava pensando, e não necessariamente precisava ser solicitada. Essa mudança, surtiu efeitos. Positivos e negativos, efeitos.
Era a primeira aula do Prof. Fulano. Ele entra, e começa a falar, baixo. A turma inquieta, não parava de falar, e eu buscava entender o que o professor dizia (e obviamente não conseguia, já que ele falava muito baixo). Em certo momento a turma parou de falar, e consegui escutar o que ele dizia; “…não me relaciono com alunos, não troco emails com ninguém além do representante de turma. Para mim, vocês não tem muito a acrescentar na minha vida. Vocês só poderão afirmar algo a partir do que eu disser e vocês interpretarem. Minha aula é insuportável, um monólogo chatíssimo e blá blá blá”. Pensei com meus botões, que idiota-bundão-metido, porém, era claramente cheio de conhecimentos.
Com o passar do tempo, o Prof. Fulano, foi mostrando que não era bem assim, que ele apenas usou da técnica de “oi, sou bruto e inatingível” para impor limites. A aula dele era simplesmente a melhor de todas, todos tinham abertura para dizer o que pensavam, sempre debatíamos sobre os assuntos. Em pouco tempo me percebi a aluna preferida do professor, e enquanto essa relação fosse estritamente professor-aluna, tudo bem pra mim.
Era de praxe que toda aula ele me chamasse para responder algo, ou dizer o que achava sobre tal coisa. A cada dia, o interesse dele pela aluna favorita crescia. Em pouco tempo os colegas de faculdade perceberam o interesse exacerbado dele, e começaram a fazer brincadeiras, dizendo que o professor era apaixonado por mim. Eu não me importava, levava sempre na brincadeira as piadinhas… Não passava pela minha cabeça que talvez eles tivessem razão. Até que minha colega me chamou num canto: “Alice, toma cuidado! Onde tem fumaça, tem fogo!”. Comecei a ficar mais ligada na situação.
Aos poucos o professor da cadeira mais interessante e divertida, passava a ser o maníaco apaixonado. De homem respeitado, e dono de uma barreira invisível entre os alunos e ele, para um cara apaixonado. Só podia ser mais uma das minhas doidices. Mas, as atitudes dele confirmavam minhas suspeitas, os assuntos dele comigo a cada dia se tornavam mais particulares, até que os assuntos acadêmicos iam desaparecendo quase totalmente.
Certo dia estava distraída na aula, em outro planeta, não era um bom dia. Percebi que o Prof. Fulano reparou isso. Ao término da aula, ele me chamou na bancada. Já imaginava qual seria o assunto, “onde você está com a cabeça hoje menina? Compreendeu a aula?”… Engano meu! Ele foi mexendo na bolsa enquanto dizia: “Olha, passei numa lojinha, e encontrei esse colar… A pedrinha dele combina com seus óculos, então, comprei pra ti!”. Eu congelei, se eu estivesse num desenho animado provavelmente era nessa hora que o chão se abria e eu me enterrava. Passei uns dez segundos parada, dura, tão viva quanto uma pedra.
Quando voltei à vida, percebi que metade da turma ainda estava em sala, e observando a situação. Agradeci, sorri, meu rosto provavelmente se transformou num vermelho pimenta. Queria sumir de lá, desaparecer. Numa fração de segundos, milhões de pensamentos passaram na minha cabeça, fiquei absorta, perdida nesses pensamentos, nem percebi o “tchau” do professor.
Fui acordada novamente pela minha amiga dizendo: “Alice, o que danado foi isso?”. Eu, desesperada disse: “vamos sair daqui, lá fora te explico isso!”. Saímos e fomos andar um pouco. Expliquei toda a situação pra ela. Eu queria me enterrar, e ela me deixava mais nervosa dizendo a toda hora: “e agora Alice? O que tu vai fazer?”. Eu dizia que não sabia, mas que ia evitar ser tão participativa nas aulas dele, e tentaria impor limites assim como ele tinha feito no primeiro dia de aula. Ela concordou, disse que eu estava certa.
A situação se acalmou, tinha conseguido impor essa distância entre o professor e sua aluna preferida. Tive umas semanas de tranquilidade, até um certo dia… Quando pensei que tudo estava resolvido, o representante de turma vem falar comigo no MSN: “Alice, o professor Fulano me pediu seu MSN, disse que tinha um livro que você tinha pedido e ele já tinha achado, daí eu dei, ok?”. Pensei: “tá, pode ser que seja só o livro…”.
Ingenuidade da minha parte. Ele disse que estava lendo um livro sobre sociologia da moda, e lembrou-se de mim. Até aí tudo bem, o problema foi que depois disso, ele só falava sobre coisas da vida dele, me perguntava coisas da minha… Estava sem saída, agora eu evitava entrar no MSN, entrava sempre em “Invisível”, e ao ver ele pelos corredores, literalmente fugia dele.
O mais tenso disso tudo, caro leitor, é que essa história ainda não teve fim. Enquanto você está sentado, confortavelmente na sua cadeira, provavelmente sem ninguém te perseguindo, reparando na cor dos seus óculos ou te chamando pro cinema… Eu posso estar sendo atacada (tá certo, não é pra tanto, ou é?).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

,<>dê sua opinião<><> ou deixe uma frase.