A fofoca é filha da inveja, produto criado pela alma de pessoas
que não suportam ver a felicidade e/ou o sucesso de alguém. Na
melhor das hipóteses, quando não querem espalhar a mentira,
contentam-se na automediocridade de ver seus semelhantes na eterna
patinação das dificuldades financeiras, sem que haja uma
perspectiva de um futuro melhor. Nesse caso, a fofoca é
autofágica, ou seja, não sai do labirinto podre de suas mentes
carcomidas pelo egoísmo avarento por futricas.
Para o jornalista Gilberto Dimenstein, nos meios políticos,
fofocas e boatos, não eram apenas uma questão ética (sic), mas um
ingrediente habitual da vida pública, marcada por intermináveis
conflitos, intrigas, esperteza e calculismo. Como exemplo de
boateiro, ele cita o então deputado federal Amaral Netto que
gostava de implantar "notícias" aos parlamentares. Pedia sigilo
absoluto, falava com riqueza de detalhes, dava nomes e diálogos.
Invariavelmente, fazia isso pela manhã. À tarde, era normal
alguém, pedindo sigilo, relatar-lhe com ares de verdade inapelável
o boato inventado horas antes, agora amplificado com outros
"fatos". No dia seguinte, divertia-se bastante com essa estúpida
brincadeira, quando lia nos jornais, "notícias" baseadas em
"assessores" ou "fontes bem informadas."
Se as pessoas fossem mais responsáveis e ponderativas a
respeito daquilo que falam, talvez lhes servissem o conto das três
peneiras: "Chegou um novo vigário na Paróquia de Santo Agostinho.
Logo no primeiro dia, dona Flora foi à sacristia falar com ele. -
Padre, o Sr. nem imagina o que me contaram a respeito de João...
Nem chegou a terminar a frase, porque o padre a interrompeu: -
Espere um pouco, dona Flora, o que a senhora vai me contar já
passou pelas três peneiras? - Peneiras? Que peneiras, padre?
- A primeira é a da verdade. Tem certeza de que esse fato é
absolutamente verdadeiro? - Não, como poderia? O que sei é o que
me contaram, mas eu acho que... - Então sua história já vazou pela
primeira peneira. Vamos à segunda, a da bondade. O que a senhora
vai me contar é alguma coisa que a senhora gostaria que os outros
dissessem a seu respeito? Claro que não, Deus me livre!
- Então essa história já vazou pela segunda peneira. Vamos à
terceira, que é a da necessidade. A senhora acha mesmo necessário
contar-me esse fato, passá-lo adiante? - Não, padre, não tenho
necessidade de contá-lo. Dona Flora deixou a sacristia muito
envergonhada. Moral da história: antes de falar de alguém, faça o
teste das três peneiras; se o fato vazar por uma delas, é melhor
silenciar."